quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Os gestos conseguem falar mais alto do que as palavras.


Tanto que te quero dizer, e vou repetindo palavras, acções, em gestos meigos e delicados, sempre de sorriso desenhado, talvez passando a mensagem oposta ao que se agita aqui por dentro. Há uns tempos atrás perdi-te (mesmo sabendo que nunca te tivera), não tive tempo para me conheceres nem eu mesma perceber como é estar contigo de verdade, mostrares-me quem és assim como te mostras aquando em silêncio contigo mesmo. Julguei ter arrumado tudo, as lágrimas, a angústia, a confusão da mente e do corpo, segui comigo e com os meus eu's. Deixei-te ir ser feliz onde o teu coração mora, porque sei que é lá que ainda pulsa. Não me preparei para ver o teu sorriso novamente, nem o teu toque num deslizar quente na minha pele, nem as cócegas que se fazem sentir quando vejo que me escreves. Um lado meu quer muito ser a amiga que apenas sentes (sejamos o mais sinceros connosco, hein?), o outro deseja mais além e no meio disto tudo, volto a perder-me sem sequer me conheceres de verdade, porque ambos sabemos (se calhar mais eu do que tu) que há uma ponte a separar, uma desfasagem de um sentir. Vou-te deixar ir novamente, para onde sentires que o teu coração pulsa mais forte. Se me tens carinho sei que não me vais querer magoar, nem ver escorregar pequenas gotas salgadas por mim abaixo, sou bem mais bonita de sorriso posto e de olhos brilhantes que anseiam felicidade. E quero continuar a sentir carinho por ti, mas este gostar sem retorno sufoca-me, e eu preciso de leveza no amar. Se algum dia sentires algo diferente, ambos também saberemos porque os gestos conseguem falar mais alto do que as palavras. 


'ISSO É MUITA SABEDORIA
Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.'


Clarice Lispector

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