Passeio ao andar de baixo num hospital perto de si

Sobreviver ao tempo de espera num hospital a aguardar exames é uma aventura. Mas ver um palmo e meio de gente a sobreviver a 3 horas de jejum, a aguardar a chegada da médica que se lembrou de apanhar trânsito pelo caminho, deste maravilhoso Portugal, é mais do que isso, é uma odisseia de emoções. Ela aguentou, e eu sobrevivi às mil e quinhentas e vinte e três vezes que me perguntou quando é que ia fazer o exame, e quando é que a médica chegava, e quando é que se ia embora, e quando é que comia, e quando é que vem o verão...não, essa sou mais eu, todos os dias...
Mas sobrevivemos, estamos intactas a mais um penoso momento de espera dura numa sala de um hospital fofinho, pintado de novo, com caras larocas e sorridentes. O que nos valeu foi o aprovisionamento de mimos que a criatura levou nos bolsos e algibeiras, que lhe valeu um diploma de excelente comportamento, por aguentar tanto tempo sem um pouco de hidratos de carbono e H2O no bucho, e eu como mãe da gentil maravilha, levei apenas com um sorriso de compreensão pelos cabelos em pé e cansaço duma espera sem sentido. Depois temos o melhor, o exame leva 2 minutos, e leva-se vinte mil horas a marcar consulta, para a médica mais tarde me vir dizer que ela precisa de mudar a dieta alimentar (melhor assim), quase aposto. Mais cinquenta minutos de luta contra o meu mau feitio, que é muito grande quando tenho de ficar confinada com gente a tossir, a cuspir azedumes, escutar miséria alheia, ou a meter-se quinhentas vezes com os caracóis, com as bochechas, com o que lhes couber à mente, sobre a rapariga, e dar comigo a sorrir, mas um sorriso de exaustão e a dizer interiormente, segura-te, olha o exemplo à criatura, segura-te...e a cereja no topo da coisa, foi ver o número da senha a saltitar ali naquele visor patético, ser ultrapassada em 3 lugares, quase que espetei 3 chapadas na cara da administrativa, mas não, realizei-o apenas na minha mente, ficou toda despenteada, pelo menos com o olhar que deitei, para mais uma vez apenas me pedir uns dados e informar que a carta de nova marcação segue para casa. Admiro-me como os homens bomba não se lembram de vir a estes sítios...que às vezes dá vontade, vá, para não ser mázinha, bombas de mau cheiro, para aprenderem a não fazerem perder tempo ás pessoas, que se gastam de olhar horas perdidas umas para as outras, sem ter nada para dizer.