terça-feira, 29 de outubro de 2013
O tempo
Por vezes o pensamento trai-me, e regressa a tempos longínquos que sei jamais voltarão. Tenho alturas que ainda me questiono se fiz bem ter regressado a Portugal, fruto de uma reviravolta súbita que me fez ver o voltar como única alternativa. Os se's quando me assolam, ficam pequenos ao recordar os momentos em que me senti literalmente no chão e aos poucos me fui levantando, resgatando a Sandra e por fim devolver a mim mesma uma outra que esteve escondida durante tempo em demasia. Não teria conhecido as pessoas maravilhosas que fazem parte do meu presente, não teria a delícia de sentir o abraço quente do meu sobrinho que está cada vez mais expedito, o cheiro do mar seria memória, e tudo o que tenho hoje seria diferente. Mas tento, tento no meu dia de hoje, colocar em prática aquilo que aprendi sobre mim lá fora, e hoje recordei a simplicidade com que vivi na Holanda (o menos era mais), senti saudades de ter tempo, de sentir a organização simples entranhar-se nas minhas 24 horas e desejei por momentos pegar em mim, a meio da tarde, fim de dia de trabalho (embora não tenha trabalhado lá) deslocar-me sem corridas até à filha, ter tempo para a levar ao parque, depois umas simples compras no mercado local (vivi numa vila pequena, perto de Eindhoven), o Albert Heijn (não há espaço para continentes mega gigantes, nem é necessário), e depois voltar para casa, preparar uma refeição quente, ter tempo para brincar com ela e deitá-la, mais uma vez com tempo. Questiono-me como conseguir trazer um pouco dessa passividade para a correria em que vivo, devia ser ao contrário, à medida que envelheço, adquiro mais qualidade de vida, mas não, a vida tratou de me apresentar um belo desafio e nem sempre me safo como desejo. Como conseguir ganhar tempo ao tempo? o ideal, algo que estava pré-estabelecido ou pré-idealizado, seria trabalhar em part-time de forma a poder ter tempo para a família, o melhor dos dois mundos, realizar-me pessoalmente, fazer alguma diferença no mundo lá fora e poder também, fazer a diferença completa dentro do MEU mundo. Mas como conseguir isso aqui, num Portugal perdido em pré-conceitos? Bom, ideologias à parte, aquilo que preciso é trazer aos poucos o mais num menos possível, sentir tranquilidade e ganhar tempo ao tempo, para que não me sinta tão idiota e ver a vida passar lá fora da janela, enquanto perco todas as estações de paragem a visitar. Como o fazer, num país onde viver em família parece ser um atentado à inteligência de alguns, eis mais um desafio a que me proponho...isto tudo porque a rapariga cá de casa, sem se aperceber anda a gritar por atenção e ajuda, o que se continua a reflectir nas dificuldades que sente quando é chamada a testes de avaliação.
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