terça-feira, 18 de agosto de 2015

Arrumações


Gosto de ter o meu espaço limpo, arrumado, organizado. Preciso. Não sou de andar a arrumar gavetas e afins a toda a hora. Devia. Há muita coisa ali para dentro delas que já não serve, não faz sentido. A seu tempo. Neste regresso de férias, ainda sem rumo à vista, preciso deste arrumar. Olho a sala e vejo o que posso fazer de diferente. Limpo-a que bem precisava. Coloco as coisas noutro lugar, ganham vida noutro poiso. E neste arrumar, organizar, deitar fora o que entendo supérfluo, vou arrumando a casa e a cabeça. O ruído visual pertuba-me a paz de espírito. Tudo tem o seu momento e agora que a rapariga mais nova já começa a ficar mais crescida, volto novamente à fase de ter o chão livre sem brinquedos espalhados (que foram substituídos pelos meus mil e um livros que aguardam furiosamente prateleiras que esta parede teima em não deixar colocar). O silêncio cada vez mais meu companheiro, e é uma forma de eu ir escutando de mansinho o meu coração. Aceitar que a minha menina já não o é e deu lugar a uma rapariguinha é-me difícil, mas sei que assim o é, faz parte. Do crescimento dela e do meu. A ausência dela começa a fazer-me comichão e sendo assim, vou colocando ordem na vida, começando pela casa. Mais tarde o coração, que também precisa de se sentir pleno. Uma coisa de cada vez. No entretanto há uma voz interior que me grita de fininho, não desistas, tem calma, continua a insistir no sonho, redesenha-o, trabalha-o, não te deixes vencer, não voltes ao mesmo caminho que sabes aonde te levará. Toma outra estrada, vai em diante, limpa essas lágrimas. E o regresso deu lugar a este arrumo, limpeza e coragem, porque os desafios estão cá para os deslindar da melhor forma que consigo.

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