segunda-feira, 28 de julho de 2014

Dormir com os pais ou na própria cama?


Ao ler este artigo, de um dos meus psiquiatras favoritos, recordei aquilo que ainda hoje refiro como o período mais conturbado das nossas vidas como mãe e filha. Adoro dormir, sempre disse que era das coisas que mais me custava na maternidade. Por sorte, foi um bebé tranquilo, a fase das cólicas durou não mais que mês e meio e dormia a noite toda. Sempre foi madrugadora e acordava cedo, o que me fazia reclamar a almofada e o meu descanso do esqueleto e interior. Mas a fase dos pesadelos foi dolorosa, penosa mesmo. Ela com 5 anos e eu gasta de dias cansados e noites super mal dormidas.  Escutei imensas versões, que estava a ser fria e distante insistir em que ela dormisse na sua cama, apesar de eu dormir sem o companheiro, e ela temerosa com os monstros do seu imaginário. Acordava cerca de 2 a 3 vezes por noite, e eu com uma paciência que ainda hoje mal reconheço, levantava-me, afagava-lhe o medo, pegava-a ao colo e contrariava a tendência de a manter na minha cama para que eu conseguisse descansar, mas em nada resultaria na autonomia dela em combater os seus medos. Foi um ano inteiro nisto, levantar de noite e regressar à minha cama, sussurrar-lhe amor e carinho e dizer-lhe que os monstros só existem nas histórias de fazer de conta, e que eu estaria ali sempre a proteger o seu sono, ali ao lado do seu quarto. Recordo de me ter questionado se não era preferível mantê-la na minha cama, mas algo dentro de mim gritava que ela teria de aprender a gerir os medos por ela, gradualmente e que mais tarde sentir-se-ia orgulhosa de conseguir combater este receio, e mais tarde quem sabe, outros que viessem a surgir. Foi um ano duro, cansado, extenuante, mas conseguido. Conseguiu superar, de vez em quando dorme comigo, mas não porque tem medo, mas sim porque gosta de se aninhar sem razão alguma que o justifique, apenas a sentir o meu amor por ela (mesmo quando se comporta menos bem, como nos últimos tempos). Não sou fundamentalista, acredito que devemos fazer o que melhor sentimos. Se há pais que preferem mantê-los na sua cama a noite inteira porque facilita o percurso e minimiza o cansaço, muito bem. Segui o meu coração, mesmo sentindo algumas dúvidas. Ela resgata diariamente a autonomia dela, por vezes de forma confusa e a medo, mas descansamos. Ela tem o espaço dela, que é importante e eu tenho o meu, que também preciso. E apesar das turras normais entre mãe e filha, sei que temos algo único. É importante eles (crianças) sentirem que conseguem fazer as coisas por eles, mesmo sabendo-se amparados, é importante sentirem-se amados, mas acima de tudo saberem que são uma pessoa independente de nós (pais). Eu gosto da sessão de beijos, da leitura ao fim do dia, das conversas quando me as permite, em que falamos do que a angustia ou questiona, de a deixar apaziguar na sua própria cama, sabendo que eu estarei ali sempre, e que lhe afagarei o medo do escuro, e que nunca estará sozinha. Como também gosto do silêncio que após o seu deitar e sono tranquilo, invade a minha pessoa e me permite colocar em perspectiva o que fiz de bem e o que fiz de mal, o que quero melhorar enquanto mãe e pessoa e o que quero fazer de diferente. E assim vamos crescendo, as duas, de formas diferentes, nunca deixando de amar, nunca.

2 comentários:

MÓNICA disse...

Eu era fundamentalista a respeito disto!
Muito rigorosa neste aspecto. O Miguel nunca dormiu comigo até ser preciso numas férias, tinha ele 4 anos.
Agora!!!???
Não sou fundamentalista a respeito de nada!
A Carolina já dormiu montes de vezes na nossa cama, e usa chucha com mais de 2 anos e fralda, e dorme com fralda de pano e boneco (que tu e a Vera lhe deram) e tudo e mais alguma coisa.
Também não acho que lhes faça mal algum dormir na nossa cama, o único mal pode ser para o casal, que fica ali com um jarrão no meio!!! lol

Sandra Simões disse...

:) Como referi, o mais importante é seguir o coração, e sentirmos que fazemos o que nos faz sentir bem. Ainda hoje, aprendo tanto sobre mim com ela. Ainda ontem me portei também mal com ela, é assim. Um crescer, um aprender. Mas sempre de coração amoroso por eles. Não sei se o faria diferente hoje, talvez. Espero que persistam mais as melhores memórias, dos que as menos boas.