quinta-feira, 26 de junho de 2014

Mãe vs Filha



Lembro-me de lhe ter implorado que não te levasse para longe de mim. Não saberia viver sem ti. Sei-o, de coração. Recordo aquela tarde ensolarada mas que me esfriou tudo por dentro e por fora, e as palavras saiam-me sem dar conta, ´Não me a tires'..., já lá vão 7 anos e volvido este tempo, faço por viver, dar o melhor que sei ou consigo, com muita culpa sobre os erros que reconheço cometer, e na tentativa de te dar o melhor, o meu melhor, mesmo sabendo que me levas o pior também. Se há coisa que estes quase 10 anos de vida em comum me têm mostrado, é que em nada é fácil o papel de mãe, muito menos a viver esta dinâmica numa monoparentalidade. Não, não o é. Vive-se entre um momento e outro, nos bons e maus momentos, em tentativa e erro, de fazer por incutir valores e sobejar o respeito mútuo, também falhamos de quando em vez nesta premissa. Tenho-te saudades sabes, já te tenho saudades e ainda agora começou este teu caminho rumo a uma independência. Esse revirar de olhos, os gritos, o encolher de ombros, o bater de portas. Às vezes tenho vontade de ir ali dar uma volta e regressar bem tarde, ou fazer malas, viajar e voltar quando souberes sorrir, como sorrias quando eras um rabo de fraldas, uma boca cheia de chupeta, uns braços esticados decorando o meu pescoço. Estás a crescer e sei que todas as fases existem para nos testar, ensinar, devolver algo ou simplesmente nos fazer dar algo de nós, escolhi ser mãe nesta vida, pelo que não será um momento de aprendizagem, serão muitos, nos quais sei que irei errar, cair, deixar inclusive o meu coração cair ao chão e estilhaçar-se, mas com o imenso amor que me veste este meu corpo por vezes cansado, conto renovar a minha dose de paciência que se esgota rapidamente e dar-te o meu melhor, mesmo quando sinto que te dou o pior. Espero que mais lá à frente recordes mais os dias em que corri para te ir buscar à escola, ao ATL, te segurei a mão a caminho das consultas médicas, te acariciei os medos e tranquilizei os temores, recordes as noites de leitura, algumas cócegas que ultimamente andam escassas, te lembres dos bolos e das músicas que escutávamos e me impedias de as dançar por pura vergonha, te lembres sempre do meu sorriso quando tudo em mim grita orgulho pelo esforço que dedicas, mesmo repleta de medo. Que as recordações boas superem os momentos menos felizes, os desalinhados, os momentos de loucura que muitas vezes vivemos, e que mais tarde percebas que somos mãe e filha, e que as mães fazem por dar o seu melhor, mesmo quando dão a entender o contrário, porque não há maior nem melhor amor que este, aquele que eu escolhi, tal como uma rosa que é bela mas que também tem os seus espinhos com ela.

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