quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Há um ano atrás



Há um ano atrás andava a apanhar os cacos do meu coração que caíra ao chão. Sabia que não havia volta a dar. Não ia ser diferente do que fora e mesmo assim doía. Preparei-me para viver comigo apenas, educar e criar a filha sozinha, sem mais ninguém por perto, sem nódoas negras no lado esquerdo nem lágrimas salgadas a rolarem por mim abaixo. Perderia a alegria da novidade, do êxtase, da gratidão em momentos de luz, do toque, da magia, mas não iria doer mais. Não foi tarefa fácil, os desafios mantiveram-se, a filha nem sempre fácil, a vida real por vezes dura, mas mantinha o alento dos amigos e acima de tudo começara a ficar de bem comigo, o passado lá atrás, sem me preocupar se um dia voltaria a gostar ou melhor, ser amada por alguém, isso passou para terceiro ou quarto plano, se é que havia plano. A saúde estava no top das preocupações, e o manter-me comigo, viva, de bem, em paz era o mais importante. Um dia surgiste, lembraste-te de me dar notícias. O reencontro não foi logo imediato, ainda se passaram dois meses após o primeiro olá. Uma voz interior fez-me ligar-te e combinar um café que passou a jantar para te deixar mantimentos a animais abandonados, e confesso que o meu click levou mais tempo, levei mais tempo a olhar além do amigo, a ver o homem. No entanto reconheci de imediato o coração gigante, tenaz e delicioso que abrigas dentro de ti. Apaixonei-me mais tarde. Tive medo. Estava bem. Levara algum tempo até chegar onde me sentia e não queria perder-me novamente de mim. A tua meiguice, cuidado e brincadeira deitaram por terra qualquer barreira que coloquei, e esse cuidado para com a princesa da minha vida permitiu abrir espaço, entrada tua na minha vida. Há um ano atrás nada disto me faria sentido. Estava dorida, cansada, exausta e de coração tristonho. Hoje, já foram muitos os momentos em que sorrio em silêncio recordando o primeiro olá e agradeço teres desejado entrar, ficar, teres insistido. Passei por um dos momentos mais difíceis da minha vida e estavas por perto. Bom, muito bom, mesmo sabendo o quanto te dói, o quanto te custa. E desejo que continuemos, vivendo, crescendo, mesmo com os desafios que vamos tendo pela frente. Sei que ainda não estás preparado para mais, e isso também me custa a mim agora que me faz o sentido que um dia almejei. Espero saber corresponder, saber esperar, perceber melhor e ajudar-te sobre os teus receios, medos, dúvidas e questões. Acho que a vida é isto, um entreajudar-se, um crescer neste emaranhado de emoções, de mãos dadas, caminhando numa mesma direcção. Assim o desejo...